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Você já ouviu falar em C.E.D – Capturar, Esterilizar e Devolver?

maio 11, 2021 | Artigos

Em 2021, cenário de pandemia, o Brasil bateu recorde no número de abandono de animais.

No início do confinamento, as ONG’s que cuidam de animais abandonados se depararam com a boa notícia de que, com mais tempo em casa, as pessoas passaram a buscar pela adoção de animais com a intenção de ter um novo companheiro para o confinamento. Um ano depois, além da crise sanitária que assola o país, estamos também em meio a uma crise social e econômica na qual as pessoas não conseguem mais despender suas economias com animais de estimação, fazendo com que muitos dos que foram adotados sejam devolvidos ou voltem a ser abandonados nas ruas.

Porém, o problema do abandono de animais do Brasil não é recente. A OMS estima que existam, no país, cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Uma pesquisa de 2015 do IBOPE e Instituto Waltham mostrou que 6 em cada 10 brasileiros deixaria seu animal caso tivesse que mudar de domicílio

No entanto, não é novidade também que a vida na rua está longe de ser adequada para esses animais, pois nela eles se estão constantemente expostos a situações de maus-tratos, fome, sede, frio e extremamente suscetíveis a contração e propagação de doenças, tanto na espécie quanto à população, e foi pensando nisso que o C.E.D foi criado.

A técnica de Capturar, Esterilizar e Devolver é um método humano e não letal de controle populacional de cães e gatos em situação de rua, muitos deles ferais, ou seja, que retornaram ao modo de vida selvagem, sendo a socialização ou ressocialização com humanos muito pouco provável de acontecer.

A prática surgiu na Inglaterra, nos anos 60, com a intenção de controlar a população de gatos ferais e foi propagada para os Estados Unidos, Canadá, Holanda e Reino Unido. Hoje já são mais de 40 países que adotam o procedimento para controle populacional de colônias e matilhas e o processo envolve a captura dos gatos e cães, sua esterilização, o período de recuperação pós cirurgia e, por fim, a devolução do animal de volta ao seu território de origem.

A C.E.D é também um dos componentes estudados e praticados pela Medicina Veterinária do Coletivo, especialidade recentemente reconhecida pelo CFMV, pois também pode atuar em comunidades carentes, oferecendo esterilização para gatos semidomiciliados de famílias de menor poder aquisitivo, colaborando para a conscientização dos benefícios da castração, reduzindo o número de abandonos e outros malefícios causados pelo descontrole populacional animal.

Há também os Projeto de Lei n. 1685/2020 e 29/2020 em trâmite no Rio de Janeiro e no Amazonas, desde 2020, no sentido de instituir o protocolo C.E.D para controle populacional de animais, além de entendimento pelo CFMV de que o corte na orelha esquerda de animais castrados dentro do protocolo C.E.D não configura maus-tratos nem ato de crueldade.

O ideal seria que esses animais não fossem devolvidos à rua ao fim do procedimento, porém, não há espaço suficiente em abrigos e nem lares dispostos à adoção para todos, e permanecer inerte à situação deixou de ser uma opção.

Um casal de cães reproduzindo duas vezes ao ano pode originar até 16 filhotes, enquanto um casal de gatos, na mesma proporção, chega a uma média de 12 filhotes. Em 5 anos, nesse mesmo ritmo, são cerca de 24 mil novos animais nas ruas, o que torna a castração a forma mais efetiva para o controle dessa natalidade.

A técnica consiste na captura dos animais por meio de armadilhas adequadas e não violentas e a subsequente castração. Passado o período de recuperação, esses animais são devolvidos ao seu habitat de origem e os sociáveis, normalmente filhotes, são encaminhados para adoção. Ainda, enquanto o animal se encontra sob o efeito da anestesia da castração, é realizado uma marcação em sua orelha que indica a execução da C.E.D e evita nova captura no futuro.

É importante que o procedimento seja realizado por profissional com conhecimento na técnica, pois o método de castração também é específico e minimamente invasivo, o que possibilita a rápida recuperação e soltura desses animais.

Dentre as vantagens do procedimento estão: a diminuição de ninhadas nas ruas, menos gastos operacionais de abrigos com novos animais, menos brigas territoriais e durante o cio, menos danos à fauna, que ocorre em razão da caça aos felinos, e menos comportamentos negativos, como barulhos ou marcação de território na comunidade. Porém, o maior benefício de todos é a melhoria na qualidade de vida desses animais que advém da castração, diminuindo os riscos de doenças ligadas ao sistema reprodutor ou transmitidas durante brigas, além das doenças sexualmente transmissíveis.

Embora seja uma técnica que necessita de profissionais capacitados, a cultura da C.E.D pode ser propagada por toda a comunidade, que além de ajudar financeiramente as entidades e ONGs que trabalham com esse tipo de projeto, também podem ajudar através do apadrinhamento de um animal de rua que, ainda que não possa ser adotado pela família, pode ser castrado e cuidado pelo período necessário e, depois disso, solto novamente. Mesmo que a devolução às ruas não seja ideal, ao menos o controle populacional é feito.

Autoras: Ana Beatriz Martins, Erika Evangelista Dantas e Larissa Lopes Geber